terça-feira, 29 de maio de 2012

Você não é um otário

Chega a ser engraçado pensar que eu não penso mais em você. Por um instante eu quase me desequilibrei por sua causa. Me joguei porque eu achava que você ia me segurar, mas quando eu olhei pra baixo vi o chão e eu usei todas as minhas lembranças para amortecer a queda. E ela doeu, mas foi bem de leve. Deixou um vazio e uma saudade que apareciam nos momentos de tédio. Sua forma de criticar tudo que é do senso comum; seus argumentos afiados; o cheiro de vida boa que vinha do seu pescoço e se misturava com seu gosto de cerveja e o jeito que você aceitava a minha intensidade eram suficientes para mim. Mas quando eu me dei conta, as coisas que a gente viveu foram ficando desfocadas e quase desapareceram. Agora você é só um vulto. E eu nem tenho mais palavras pra te dar porque elas não te pertencem mais. Tem um texto de 50 linhas, que eu nem sei se você percebeu que era pra você. Nele eu acordo com um gosto ruim na boca e você não está mais lá. Mas foi tudo um disfarce porque na realidade eu acordei olhando pro meu cabelo espalhado no seu travesseiro e com você me puxando pra mais perto. Eu lembro que você tinha medo de ser para mim, um otário, igual a todos os outros caras que vieram e foram. Você não é um otário. Você é melhor que isso. Mas infelizmente eu tive que te colocar no lugar onde todos os outros estão. No passado.

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