segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O amor acabou


No dia que o amor acabou eu não tive tempo de arrumar a cama, nem de decidir se eu queria pintar minhas unhas de azul ou vermelho. Não tive tempo de olhar se meu cabelo estava no lugar e nem de tomar o café que eu tomo todos os dias. O dia acabou e eu percebi que pela primeira vez eu tinha me esquecido de lembrar de você. Olhei pro lado e você não tava mais aqui. Olhei pra dentro de mim e tentei te encontrar. Nada. Olhei embaixo da cama, atrás da cortina e nada de você aparecer e fazer meu coração apertar. Então comecei a chorar desesperadamente porque você tinha saído da minha cabeça. Eu sempre chorei porque queria te esquecer, mas hoje eu chorei porque eu te esqueci. O amor finalmente tinha morrido em mim. 

Ouvi wonderwall, esperando alguma resposta espontânea de meu corpo, mas não aconteceu nada. Não chorei desesperadamente, como eu faço sempre, cantando de um jeito brega e adolescente ‘maybe you’re gonna be the one that saves me, and after all you are my wonderwall.’ Você não era mais minha wonderwall e nem poderia me salvar de nada. Você era só alguém que tinha ficado no passado e eu me senti completamente sozinha no mundo de novo.

Eu sempre achei que eu ia sentir um alivio enorme quando você fosse embora, mas agora eu to morrendo de medo do que a sua ausência vai fazer comigo. Você era sempre o cara que eu largaria todo mundo pra estar. Por mais que eu tenha me apaixonado por outras pessoas, você era sempre quem eu esperava no final de todos os meus casos. 

Você era sempre a parte magica da minha vida. Qualquer coisa relacionada a você era sempre meio surreal e diferente de tudo. Mas agora você foi embora e eu nunca mais vou sentir isso.  Eu queria te ver uma vez a cada dez anos e sentir mais uma vez que o mundo é mágico e que de fato o amor vale a pena. Hoje eu não senti nada disso e entrei em desespero. Nenhuma musica lembrou você, por mais que eu estivesse forçando a barra pra sentir aquela saudade inversa. Eu lembro que eu sempre repetia que queria te apagar da minha memória, como naquele filme ‘ Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças’. Hoje te apagaram da minha memória e eu  sinto saudade de sentir saudades de você.  Por mais que você tenha ido embora você vai ser sempre meu brilho eterno, como daquelas estrelas que morrem, mas a luz continua viajando no espaço. Você vai ser sempre a faísca do amor que resta em mim.

Eu to torcendo pra te encontrar por acaso. Torcendo pra eu te olhar e sentir de novo todas aquelas coisas malucas que eu sinto quando você aparece. Torcendo pra eu poder contar mais uma vez tudo que eu sinto, mas que eu nunca soube explicar muito bem. Porque algumas coisas não precisam de explicação. Elas são o que são e pronto. Não precisa dar nome, nem querer desqualificar um sentimento só por ele não ser nobre o suficiente ou só porque ele não teve tempo de amadurecer e ser chamado de amor. Só porque tá na moda não ser muito romântico e aí vivem colocando coisas nas nossas cabeças falando que não podemos gostar de ninguém de um jeito louco e sem explicação porque isso faz a gente sofrer mais. E todo mundo sabe que no fundo, não existe conselho, porque ninguém entende nada de amor. Querem colocar regras naquilo que nunca precisou de regras, que sempre foi livre pra penetrar no coração e mudar a vida de quem quer que seja. Queria que todo esse sentimento voltasse a transbordar em mim ao ponto de eu querer rasgar tudo. 

Hoje eu entrei em desespero porque descobri que, sem você, eu não estou preparada pra amar. Descobri que você era a minha certeza de a gente pode amar e desamar e amar mais de um de uma vez e desconstruir e construir do nada. Mas agora eu não tenho mais certezas e to morrendo de medo de não ter mais ninguém pra inventar.O que que vai ser de mim agora que eu estou completamente livre pra me apaixonar eternamente de novo?

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Enlouqueci, me disseram



Hoje, quando eu cheguei em casa, rasguei tudo. Quebrei meu espelho, desarrumei a cama. Revirei tudo. Entrei em descontrole e me pendurei na janela. Metade pra fora, metade pra dentro. Chorei. Baguncei meu cabelo como se tivesse encontrado uma borboleta preta dentro, igual ao André. Pensei que tivesse enlouquecido ontem, que nem ele. Eu quebrei tudo. Quebrei tudo porque eu queria que você saísse de mim. Há um ano você mora em mim, me enlouquece. Hoje eu olhei pro lado e achei que todo mundo era você. Eu queria que você fosse todos eles. Eu sempre te vejo em tudo...

Enlouqueci. Falaram que podiam me internar. Coitada, melhor deixar ela esfriar a cabeça. Quis chorar, mas fiquei com medo de não parar mais. Não senti tristeza, nada disso. Só quebrei tudo porque eu precisava fazer alguma coisa pra te tirar de mim. Foi involuntário, como se eu quisesse cessar uma dor ou um pensamento incontrolável. Eu só queria acabar com o amor. Enlouqueceu, coitadinha. E eu estava tão sã, sabia de tudo. Não era delírio, não era descontrole. Era só uma forma de expulsar esse amor todo que eu sinto, mas que não cabe em mim e eu não posso te contar. Eu prometo que se um dia eu puder te falar desse meu amor, eu nunca mais vou olhar pra ninguém, por mais que eu goste de relacionamentos livres. Eu não quero mais ninguém. Há um tempo eu não quero mais ninguém porque eu sempre te espero no final de todos os meus casos. Quando eu descubro que não são você eu volto pra casa e me rasgo inteira. Escrevo um texto e tento explicar o que todos acham que é loucura e eu chamo de amor. Queria gritar por uma hora seguida pra minha falta de ar cobrir o vazio do mundo enquanto você não está por perto.

Eu quebrei tudo. Cheguei da festa. Fumaça na cabeça e o amor se transbordando por todos os meus poros. Pressão demais pro meu corpo. Não ouvi vozes, não tive vontade de morrer. Só quis acabar com o amor, por um momento qualquer. Queria que você me deixasse em paz. Há tempos que eu enlouqueço, me falaram. Queria te arrancar de mim como se arranca uma erva daninha, arrancando pela raiz. Tenho medo de que quando eu te arrancar de mim, eu me arranque um pouco também. Sangrando a carne, puxando a pele. Eu tenho medo. Eu nunca imaginaria que você cresceria em mim assim. Eu achava que você talvez nem brotasse direito, como um pé de feijão que eu plantei quanto eu tinha 8 anos,mas logo morreu. Mas você cresceu em mim de um jeito inesperado e me fez abrir todas as minhas portas e as janelas e a luz que entrou me cegou o suficiente para eu não conseguir abrir a porta pra mais ninguém. Você ocupou todos os espaços em mim e agora eu me sinto sufocadamente confortável. Eu quebrei a janela. Queria crescer que nem você. Minha janela tava me sufocando. Precisava gritar.


Ficaram morrendo de medo de mim. Enlouqueceu, coitadinha. Morar longe da família não deve ser fácil. Não deve. O amor que eu sinto me sufoca ao ponto de eu nunca conseguir explicar que é amor, não invenção, não idealização. Essas borboletas pretas aparecem no meu cabelo de tempos em tempos e eu preciso rasgar tudo. Rasguei as roupas, o lençol branco que cobria o colchão velho. Eu gosto do barulho de tecido rasgando. Finjo que sou eu, me abrindo ao meio. E ai eu grito, porque algo dentro de mim queima e eu me sinto viva. Enlouqueci. Enlouqueci de amor. Sou tão frágil que se encostar eu quebro. Vão falar de novo que eu enlouqueci, mas tudo isso é pra dizer que você sou eu e que estamos conectados por algo que eu mesma inventei. Te vejo de todas as formas e cores e tenho vontade de te rasgar inteiro. Rasgar nós dois. Enlouquecer. Queriam me internar, mas eu tentei explicar que amor não é doença. Não tem cura. Minhas crises funcionam como uma fuga de mim mesma. Tento me encontrar nos restos do meu quarto. No que restou de mim. Você mudou tudo e dane-se. Vou continuar enlouquecendo, vou continuar amando e querendo matar o amor. É só porque você foi o único ate hoje que mereceu todo esse amor que transborda em mim, por tudo. Você me merece porque quando eu te olho eu entendo tudo por um segundo e sou puxada pra dentro de você, me afogando. Você me merece porque eu me encontrei no momento exato que eu te vi. Transbordei de amor e quebrei tudo. Enlouqueci, me disseram.