Da cidade de onde eu venho as pessoas choram dentro do carro, ou no máximo dentro do ônibus, escondidas, de óculos escuros e encostadas na janela. Eu sempre chorava no meu carro e gritava pra ver se a dor ia embora mais rápido. Mas hoje eu chorei na rua, enquanto todas as pessoas passavam por mim. E eu nem vi se eles olhavam, eu só sabia que eu tinha que andar o mais rápido possível para chegar à praia. Eu chorei porque eu ainda não entendi a grandezas das coisas. Ainda sou pequena demais e talvez eu não consiga compreender a vastidão do mundo. Pela primeira vez eu senti que eu não estava mudando apenas de casa, mas mudando de pele. Abrindo meus braços para me atirar e enfim, talvez voar. E dá muito medo essa história de mudar continuando o mesmo, porque parece impossível, mas é assim que acontece.
Eu chorei principalmente por eu estar no lugar onde eu mais queria estar, onde eu tive que batalhar para estar, e agora eu me sinto vazia. Sinto como se qualquer ventinho me fizesse voar pra longe. Eu choro por tudo, me emociono com qualquer besteira e sinto muita, mas muita saudade de tudo. Até de coisas que eu nem sabia que dava pra ter saudade. Eu ando à flor da pele, queimando, queimando. Parece que eu estou vivendo uma vida que não é minha. Nada aqui é meu. Esses pensamentos não são meus, nem essa fraqueza, nem essa frieza que na verdade esquenta na hora que não é pra esquentar. Estou em um apartamento lindo, mas nada aqui é meu. O apartamento já veio todo pronto, mas não me vejo em nada. Meu banheiro tem cortina no box. Eu sempre falei que não queria morar numa casa que tivesse cortina no box porque é feio. O conceito de feio mudou bastante nesses últimos tempos. Minha vista é linda e em dois minutos eu tô na praia. É localização que eu quis desde o dia que eu pisei na praia, com 2 anos de idade. Eu sabia que meu lugar era perto do mar e que alguma coisa um dia iria me levar para lá. Aliás, para cá. Agora eu moro perto do mar e ele não consegue preencher meu coração. Achava que o coração se colava com cola de maresia, que nem a Adriana Calcanhoto cantava naquela música.
Aqui o tempo passa muito rápido. Quando eu vejo já são 6 da tarde e quando eu pisco de novo são 2 da manhã. E eu fico me procurando todos os dias, tentando entender quem é essa pessoa nova que mora dentro de outra tão desgastada. Acho que eu já não me cabia mais. Meus sonhos cresceram tanto que eu tive que crescer também. Talvez a carapuça não sirva mais e eu tenha que me reinventar. Novos sonhos, novos caminhos. Talvez não novos, mas maiores e concretos, que se encaixem em mim.
O problema é que descobri que estou em crise. Existencial, psicológica, de personalidade, emocional, não sei. Não sei dizer que tipo de crise é a crise de quando você quer ser algo que você não é. Todas, provavelmente. Eu sempre quis ser genial. Sempre pensei que alguma hora eu faria alguma coisa que ia mudar tudo, ia mudar as pessoas, ia mudar a história ou sei lá. E aos poucos eu fui descobrindo que eu sou só mais uma. Não sou mais interessante e inteligente que ninguém. Não leio, estudo ou me jogo no mundo o suficiente pra isso. Também não nasci genial, porque até eu me convencer de que eu era boa em alguma coisa eu precisei entrar no teatro, há alguns anos atrás. Foi então que eu percebi que as coisas só dariam certo se eu as fizesse para mim e não para mudar alguém. E no teatro eu podia ser todas essas coisas e pessoas e pensamentos que eu era ao mesmo tempo. Eu pude me abrir ao meio e me mostrar, porque na arte todas as ideias são acolhidas de uma forma diferente. A arte te coloca em choque com a sua própria vida. Você começa a ver que o mundo realmente não faz sentido nenhum, mas que a vida vale a pena ser vivida. Então eu descobri o óbvio: eu nao precisava ser genial. Eu só precisava acreditar no que eu faço e acreditar que isso basta para mim.
Me sinto louca, perdida e sozinha, mas dizem que para que uma grande mudança aconteça na gente, é preciso entrar em crise antes, para que se aprenda a levantar sozinho. Por isso eu prefiro ficar aqui, com essa vida nova, aguardando o momento de me transformar em uma tempestade que mude tudo de lugar. Prefiro ficar aqui, onde está sempre amanhecendo.
Um comentário :
nao fique sozinha nessa cidade imensa! so falar (:
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