segunda-feira, 21 de novembro de 2011

De um cara qualquer para Tati Bernardi

Da última vez que nos vimos você ficou me olhando daquele jeito que me deixa meio sem graça. Ficou me encarando como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. E eu não queria ir embora, mas fui. Fui embora por um milhão de motivos que eu não entendia, ou queria não entender. Fui embora com medo de ter que te falar tudo isso e perceber que sou um covarde. Mas agora já é tarde demais. Nem sei como vou te entregar essa carta. Não sei se vou te mandar pelo correio, não sei se vou até a sua casa e coloco embaixo da porta. Tenho medo de te encontrar. Ou melhor, tenho medo de te encontrar com outra pessoa. E eu nem sei por que, afinal a gente nunca teve nada além de algumas tardes agradáveis e algumas horas de amor intenso. Eu sabia que você era assim. Eu achava que você me queria mais do que qualquer outra coisa enquanto estávamos juntos, mas eu fui embora.
E só agora, depois de sete meses sem te ver, criei coragem para falar o motivo da minha partida silenciosa. Eu sabia. Sempre soube. Mas eu não podia correr o risco de arrancarem meu coração do peito de novo. Pensava que eu não ia aguentar mais uma perda. Não sei lidar com esse tipo de coisa que desaparece. E estando do outro lado, agora eu entendo realmente o que Fernanda Young quis dizer, em uma de suas cartas, com a frase "pessoas que somem não são confiáveis". Não são mesmo. São tão covardes que não conseguem admitir para eles mesmos o que sentem. Sei que você não é igual a quem me deixou assim. Sei que você é a última pessoa do mundo que eu deveria temer, mas ao me deparar com a sua personalidade, fui fraco. Então antes de você pensar em ir embora, eu já tinha ido. Eu esqueci que as pessoas não são iguais e que os relacionamentos não são iguais, porque todo mundo muda. E em pouco tempo que te conheci, você mudou a minha cabeça.
Durante uma conversa  que a gente teve, eu consegui ver a vida de outro ângulo. E eu fiquei encantado por tudo que você fazia desde aquele instante. Então eu fui embora.  E agora, no final das contas eu nem sei se te conquistei. Nem sei se eu te decepcionei e nem sei se você se importou muito com o fato de eu ter ido embora. Você nunca mais me procurou. E durante esse tempo todo eu me envolvi superficialmente com outras pessoas. Fiquei um tempo com uma menina, mas ela não me fazia rir como você fazia, não me contava história malucas e não me deixava tonto por acordar ao lado dela no outro dia, só porque a noite tinha sido de tirar o fôlego. Você era apaixonada por mim e por todos os meus detalhes. Mas eu nunca tinha percebido que você é desse jeito. Você é apaixonada pela vida e por todas as coisas que existem ao seu redor. Você consegue ver tudo de outro jeito, diferente de todas as pessoas, que estão sempre se preocupando com coisas pequenas, se aborrecendo com coisas pequenas, e falando sobre coisas banais. E qualquer pessoa que passar mais de um minuto com você, já vai achar que você está completamente apaixonada. E eu nunca soube ser assim. Nunca encontrei essa excentricidade em ninguém. Você é alguém que eu achava que estava faltando no mundo, pra convencer as pessoas de que a vida é mais do que isso. Você me mudou e agora eu tento ver através das coisas.
Tento não olhar pra alguém superficialmente. Tento não olhar para nada tendo a certeza de que aquilo é plano, porque as coisas raramente são. E eu que te critiquei por ser tão profunda, por querer me engolir enquanto me olhava, sempre tentado me decifrar. Te critiquei quando você me fez um milhão de perguntas bestas, sentada só de calcinha na janela. E eu ficava me perguntando o que você queria saber. Onde você queria chegar. Mas você só queria saber de mim, saber o que eu penso sobre as coisas. E eu nem vi nada disso... Eu só sabia que no fundo, eu queria eternizar aquele momento, como num quadro.
E agora não sei qual vai ser sua reação diante dessas informações, mas só quero que você saiba que eu sinto muito. Sinto muito por mim, por não ter enxergado o que poderíamos ter sido, ou por não ter me permitido. Por não ter vivido, por não ter amado, por não ter eternizado nada, pelo menos por um segundo. Agora eu não peço nada. Só que guarde essas palavras. E por favor, pense bem antes de renegar algo que, no fundo, é o que você mais quer.

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