sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Chuva e pensamentos desconexos


Chovia, chovia e chovia. Eram mais um daqueles dias que amanhecem com o maior sol e de repente o tempo muda. Alguma coisa lá em cima gira e as nuvens começam a pairar sobre o céu, se espalhando lentamente. Nuvens carregadas, cinzas. E veio o vento e de imediato a chuva. Dessa vez eu não quis me esconder debaixo de algum telhado, nem abrir o guarda-chuva, nem muito menos correr pra chegar em algum lugar. Eu queria ir andando lentamente, sentindo frio. Queria sentir meu corpo ficando todo molhado, sentir as minhas roupas grudando na minha pele e sentir meu sapato ficando ensopado. São nessas horas em que a gente não está pensando em nada, está meio melancólico por não ter nada pra dramatizar, que começamos a pensar no que mais queremos no momento. Ou pelo menos o que achamos que é o que mais queremos. Então eu quis ir andando até a sua casa, tocar a campainha, abraçar você sequinho e me agarrar no seu cabelo bagunçado. E eu ia sentir o cheiro de café que você sempre faz à tarde e ele ia se misturar com o cheiro de chuva e com o seu cheiro de coisa boa. E eu só queria que você tirasse minha roupa molhada e me puxasse pra mais perto. Você nem ia se importar com a água da chuva, que estava em mim, se espalhar pelo sofá, pelas almofadas, ou por você inteiro, porque tudo o que você queria naquele momento era se misturar com aquilo tudo. E você ia falar que eu devia estar morrendo de frio, mas você nunca ia saber que assim que eu cheguei o frio passou imediatamente. E depois a gente ia ficar ouvindo a chuva batendo na janela, e a gente ia tomar café quente e ficar sentindo um pouco do amor que nos aguarda. Ou que nos restou. Não sei bem, mas eu ainda fico perdida no que ainda pode ser e no que já foi. Mas ali a gente não ia pensar em nada. A gente só ia pensar na chuva e no fato dos nossos pés estarem entrelaçados em cima do carpete molhado. E eu odeio essa ideia clichê de pés entrelaçados, mas a questão é que eles realmente estariam. E depois é bem provável que a gente seguisse nossa vida e que aquele momento ficasse guardado na memória. Como se a chuva repentina trouxesse com ela um pouco da coragem que faltava para que nos encontrássemos de novo. Mas isso não importa muito. Esqueci esse pensamento bobo, e fui pra casa com aquelas imagens ainda na minha cabeça. A chuva já estava parando. Subi as escadas, deixando no caminho algumas gotas d'água que caiam do meu cabelo e fiquei, até o último momento, imaginando que aquelas eram as escadas da sua casa e que quando a porta se abrisse você estaria do outro lado. Mas não ia acontecer nada daquilo. Abri a porta, tirei a roupa que nem estava mais tão molhada e deixei no chão do banheiro. Entrei no chuveiro, sentei e rezei pra esquecer aquela cena que eu inventei. Pedi para que ela fosse embora de uma vez por todas, junto com todos os outros pensamentos sobre você. Porque aquela cena não aconteceu. E nem aconteceria.

Nenhum comentário :