terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Fluxus, o avesso da arte



"A coisa mais importante sobre Fluxus é que ninguém sabe o que ele é" Robert Watts

Encontrei essa matéria no Correio braziliense de 1998, e apesar de antiga, é sensacional. O fluxus é um movimento artístico diferente de tudo que já foi feito e é por isso que eu me identifiquei tanto com ele. Fiz um trabalho sobre isso e me apaixonei pela proposta. Ele desmistifica o conceito de arte e faz com que o público "seja" a arte, por estar tão envolvido com ela e principalmente por ficar perdido no "não ser". A ideia de desconstrução de qualquer coisa me parece muito sensata porque é destruir os muros das certezas criadas por nós. Nada é definitivo.

*TEXTO ORIGINALMENTE PUBLICADO NO 'CORREIO BRAZILIENSE' - 30 ago. / 1998.

O movimento Fluxus, do qual Yoko Ono foi uma das fundadoras, surgiu em Nova York, na década de 60, e em seguida conquistou adeptos também na Europa e no Japão. A série de performances organizadas por George Maciunas em sua AG Gallery de Madison Avenue, em Manhattan (1961), é considerada o marco inicial desse movimento que viria a influenciar o desenvolvimento da vanguarda artística por mais de 30 anos.
Ainda sob os influxos do modernismo, seguindo o caminho aberto por Marcel Duchamp e seu 'ready-made', os integrantes do Fluxus se inserem na linhagem da arte conceitual, ao propor que a arte supere as meras formulações estéticas, assumindo também o seu papel ético. Para isso, é necessário que artista e principalmente a obra estabeleçam um diálogo com espectador, deixando de lado a exigência do tradicional distanciamento entre os participantes da experiência artística.
A arte deveria, então, se aproximar do público e da vida cotidiana, extraindo conceitos da filosofia, da sociologia, das ciências ou de qualquer outra matéria extra-artística, para expressar uma crítica social e política.
No plano da linguagem, essa inspiração conceitual se manifesta na incorporação de todos os meios de expressão, artísticos e não-artísticos, em uma concepção multimídia. Música, vídeo, película, poesia, objetos, quadros, fotografias, publicidade, tudo se mistura em um jogo permanente de combinação e fusão, no qual o mais importante não é o resultado estético, mas a idéia e o gesto engajado que resultou dela. Daí, a defesa dos integrantes do Fluxo do ato performático, que presentifica e dá vida a um conceito, obrigando o espectador a se envolver com a situação.
Como Duchamp, os integrantes do Fluxus batem de frente com o princípio de arte como instituição, imortalizada e petrificada em museus. Para eles, a arte não é apenas um processo e uma técnica que desvincula um objeto da realidade cotidiana, alçando-o, pela criação estética, a um plano quase sagrado. O que buscam, na verdade, é a "antiarte", uma "atitude", mesmo que a manifestação estética dessa atitude seja efêmera. Desmistificando a sacralidade da arte, os artistas do Fluxus pretendiam desmistificar a sociedade.
Com isso, mais do que um movimento, o Fluxus marcou uma sensibilidade, um posicionamento diante do mundo, um modo de fundir posturas sociais e políticas radicais com a criação artística.

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