segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A palavra e o balão.

Ela queria escrever, que era tudo que ela fazia quando queria se esquecer de tudo e lembrar ao mesmo tempo. Mas ela não conseguia mais. As palavras fugiam da sua cabeça, escapuliam pelas mãos, como as palavras faladas. A vantagem das palavras escritas é que elas ficam presas em algum lugar, dificilmente se perdem. As faladas voam, que nem aqueles balões de gás hélio que ela tanto gostava quando era criança. E ao vê-lo partir, sentia uma dor, um aperto do coração, porque ela nunca tinha se despedido de nada. Quando via aquele balão subindo lá no alto do céu, se misturando com os tons de azul invisíveis aos olhos comuns, sentiu que aquela era a cena mais triste da sua vida. Por mais que ela pudesse buscar outro balão daqueles outro dia, não seria o mesmo. Ela se sentia inútil porque quanto mais pulava tentando agarra-lo, mais rápido ele voava, e depois que ele escapulia não restava mais nada senão olhar aquele pontinho sumir na imensidão. E ela não se lembra de nenhuma vez que não tenha visto um balão se perder até o final. Ela gostava de imaginar onde ele iria parar. Se alguma hora ele iria descer para perto de outra pessoa ou se ele era sugado pelo céu, para algum lugar mágico. E agora ela brincava com as palavras desse jeito, imaginando onde elas poderiam chegar, alcançando montanhas, mentes, criando ideias. Ela sabia desse poder das palavras, mas preferia ter o controle das palavras no papel, que por mais longe pudessem viajar, não se perdiam totalmente. E as palavras escritas lhe faltavam agora, apavoradamente. Faltava a costura que fazia com que as palavras se transformassem em arte. E ficaram assim, ela e as palavras, olhando pro nada, para o vazio de dentro, buscando algo, mas sem encontrar nada. O vazio que encontramos quando conseguimos algo que desejamos muito. As palavras somem, o equilíbrio vira ao contrário e agora é preciso prender as palavras como nunca se fez antes, com a força de um urso. Pela primeira vez será preciso manter as palavras dentro de si.

2 comentários :

Nat disse...

Ameeeeei! Deu vontade de chorar! Ficou lindo demais! E não se preocupe, meu bem, às vezes é bom guardar os balões dentro do nosso quarto e as palavras no coração. Primeiro decoramos com a arte o mundo de dentro, depois a gente solta essa beleza pra fora.

Marcela Picanço disse...

Que lindooo! Nunca vou conseguir escrever uma resposta à altura haha. Todas as suas palavras eu guardo sempre no coração!