quarta-feira, 13 de junho de 2012

7 anos

Hoje eu comi aqueles palitinhos salgados que você tanto gostava. E eu acho que eu só gostava porque você gostava, porque eu não me lembro de ter comido isso sem você. Hoje foi a primeira vez. Talvez eu gostasse mais do fato de estar junto com você e chegar na sua casa ouvindo você dizendo que tinha palitinhos e sentar no sofá da sala, que ainda era cinza, pra comer e ver Sessão da Tarde. E hoje eu quis ficar comendo aquele pacote de palitinhos inteiro, enquanto eu sentia meus olhos se encherem de lágrimas. Eu queria ficar sentindo aquele gosto pra sempre, porque aquele gosto era você, aquela embalagem verde era você e eu quase pude sentir você ao meu lado. Me senti com 7 anos de novo. Voltei a ser aquela menina frágil e inocente, sem saber muito sobre a vida. Eu só sabia que a felicidade tinha alguma coisa a ver com estar ao seu lado. Porque era isso que eu sentia.

E ontem saindo da escola que eu dou aula, eu vi um menininho saindo acompanhado da sua avó, que carregava a mochila enquanto o menino tentava chegar até o carro da forma mais difícil possível, pulando os arbustos e fazendo qualquer concreto elevado parecer um muro. E a avó apontava para um carro branco, onde o avô do menino esperava dando tchau com os braços para cima. E eu senti uma saudade enorme. Eu queria voltar o tempo e que você pudesse me carregar no colo de novo. E eu ia entrar no seu carro contando como foi meu dia com os pés no teto. E você ia brigar e rir como você sempre fazia e me dizer que se eu não existisse eu ia precisar ser inventada. E eu achava aquilo o máximo. Você repetiu isso até muito tempo depois, e eu cresci realmente achando que eu era especial.

Eu quis naquele momento, segurar o braço do menininho e contar para ele que aquele era um dos momentos mais especiais da vida dele. Que aquilo ia fazer muita falta e que um dia ele ia querer voltar o tempo só pra ver o avô dele acenando com os braços abertos, esperando por ele. Eu queria que ele parasse por um minuto e congelasse a cena na cabeça, só para guardar como se guarda uma foto. Eu daria tudo para diminuir de tamanho e voltar a ter todos os medos que eu tinha, só para poder entrar no seu carro azul de novo e saber que eu estava indo para o melhor lugar do mundo. E eu ia saber também que a gente ia fazer um acordo para que você falasse para minha mãe que eu comi tudo no jantar, quando ela chegasse para me buscar.

Lembrar de tudo isso dói muito porque eu não posso te contar. Não posso falar da saudade que eu sinto e nem te contar meus novos planos. Queria que você estivesse aqui para que eu sempre me sentisse uma criança de 7 anos, mas sabendo que no fundo eu cresci e me transformei naquilo te orgulharia. Porque tudo que me fizesse feliz te encheria de orgulho. Eu queria que você vivesse mais cem anos para ver minhas conquistas e para me segurar quando tudo desse errado. É que quando você foi embora, eu fiquei sem ar, achando que o chão que me segurava em pé tinha sumido. E tudo que eu queria era correr para os seus braços e chorar até perder o fôlego, porque eu sabia que lá eu encontraria felicidade. Mas era você que tinha ido embora e eu fiquei sem saber pra onde ir.

Nesses momentos que eu percebo o quanto eu ainda sou pateticamente frágil e incerta de tudo. Essa saudade sem solução acaba com a gente de repente.

3 comentários :

Criscosta disse...

Marcela, que lindo, fiquei emocionada aqui lendo tudo isso.
bjs

Marcela Picanço disse...

Cris! Brigada! que bom que você gostou :*

Anônimo disse...

Já li esse texto centenas de vezes e sempre me faz chorar. É LINDO!