segunda-feira, 16 de maio de 2011

Volta inesperada

Quando eu abri a porta dei de cara com aqueles olhos castanhos bem profundos e aquele cabelo loiro meio bagunçado. Ele vestia a jaqueta de couro que eu mais gostava, a que me fez ficar mais apaixonada por ele há quatro anos atrás. Ele usava a mesma jaqueta no primeiro dia que o conheci. Quando a campainha tocou eu não esperava por ele, por isso nem me dispus a olhar no olho mágico. Erro fatal da minha vida, claro. Se eu tivesse olhado, talvez tivesse tempo para me preparar, pensar um pouco ou até mesmo não abrir a porta, que era o que eu deveria ter feito. Foi tão rápido que nem deu tempo de ficar nervosa. Nem deu tempo de sentir aquele frio que desce pela espinha e para no seu estomago, pesando.
- Tava esperando alguém?
Não respondi. Várias respostas se passaram na minha cabeça por um segundo. Abri e boca e fechei novamente senão iam sair todas as frases emboladas em uma só. A reação mais retardada que um ser humano pode ter quando o melhor que tem é ficar calado. Graças a deus foi o que eu fiz. É claro que eu esperava outra pessoa. Ou ele acha que eu fiquei plantada na porta de casa esperando por ele todo esse tempo?
Para cobrir sua pergunta, fiz outra.
- Que que você ta fazendo aqui?
Não era isso que eu queria perguntar. Queria perguntar um milhão de outras coisas, mas essa foi a única coisa que eu consegui perguntar em questão de segundos.
- Vim te ver.
ah, jura? Você está na porta da minha casa e viria aqui pra que se não fosse para me ver. Pegar suas coisas não, porque você já levou todas embora. As que sobraram eu mesma entreguei. Como se fossem muitas coisas também... uma escova de dentes velha, uma calça de pijama xadrez e 2 livros que ele me emprestou. Aquela frase me deixou meio tonta. O "vim te ver" ficava rodando dentro da minha cabeça, buscando alguma informação onde ela pudesse se encaixar, mas não achava nada. Eu falo para ele entrar ou mando ele ir embora?
- Quer entrar?
Já era. Ele entrou e já sentou meio sem jeito no sofá. Com ele ali parecia que o tempo tinha voltado ou como se nada tivesse acontecido. Eu fiquei em pé, olhando para ele sem dizer uma palavra.
- Você ta mais bonita do que nunca.
Continuei olhando.
- Por onde você andou esse tempo todo?
Foi o que eu consegui dizer.
- Te procurando.
Babaca. Eu sabia que era mentira, mas no fundo queria acreditar que era verdade. Queria acreditar que ele tinha uma explicação extraordinária para o que aconteceu e falasse que nunca deixou de me amar nem por um segundo. Mas a gente sempre sabe que não é verdade e que não existe explicação nenhuma. É só a vida nos dando mais uma de suas voltas e rasteiras.E Pior que eu ainda assim escorrego em todas. Essa era mais uma daquelas frases que de tanto a gente querer que seja verdade, acredita. Essa verdade mal acreditada acabaca com a gente, pois nos julgamos por acreditar em uma coisa tão absurda e aquilo vai nos corroendo.
- Acho melhor a gente conversar uma outra hora.
-Ta bom, vou esperar o tempo que precisar para conversarmos de novo.
Sorri, mas eu não queria. Me dirigi à porta e a abri olhando pro chão. Ele segurou meus braços, me deu um beijo no rosto e saiu. Fechei a porta, sentei no chão e chorei.

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