Versos que eu escrevo, depois rasgo.

Eu me lembro bem. Esta é uma das poucas lembranças que eu tenho daquela época. Mas eu me lembro nitidamente, como se eu vivesse o momento de novo. Estava escuro, mas uma luz amarela atravessava a minha janela de vidro e deixava o quarto menos sombrio. Chovia forte, mas a musica me impedia de ouvir por completo o barulho da chuva. A musica dizia exatamente o que eu estava sentindo. Como alguém poderia sentir a mesma coisa que eu naquele exato instante? Queria saber se você pensava em mim, naquele momento, naquele minuto. Uma simples lembrança talvez. Eu pedia fervorosamente que seu pensamento estivesse em mim, por um milésimo de segundo qualquer. Meu estomago se contraía, era uma ansiedade que não passava nunca. Eu parecia queimar por dentro, bem devagar, sem doer muito, mas incomodando bastante. Eu chorava baixinho, bem baixinho. Eu não queria que ninguém me ouvisse, nem eu mesma. Eu apertava meus lábios um contra o outro com muita força, para ver se eu conseguia estancar o choro. Tentativa inútil. Era difícil respirar. Minha cabeça latejava levemente, como se tivesse acompanhando o ritmo das batidas do meu coração. Eu sentia ele batendo dentro da minha cabeça. Eu só queria que você estivesse ali comigo, parado, sem dizer nada. Apenas ali comigo. Quanto mais eu desejava isso, mais eu sentia meu coração apertar. doía. Não vou mentir que não doía. Mas pensar em você me acalmava, era uma dor boa até. Meus olhos já pesavam muito e eu precisava dormir, mas eu lutava para que o sono não me levasse. Eu queria sentir aquilo até o último momento. A única coisa que eu queria fazer quando acordasse era te ver, mas isso não aconteceria e acordar então, seria uma dor insuportável. Eu estava exausta. Chorar nos cansa fisicamente. Tentei até o último minuto e o sono foi me levando bem devagar. Ainda conseguia ouvir a musica, bem distante, como se eu fosse me afastando cada vez mais. Ouvi a última frase da musica, que me fez dar um último soluço e então caí em um sono profundo. Ela dizia " sou eu o seu paradeiro em uns versos que eu escrevo, depois rasgo".